Cadê a selfie no busão? - Por Renata Mendes

09:26 nettodark 2 Comments



Cá estou eu, em um ônibus em minhas idas e vindas semanais, parte dos desafios profissionais que aceitei neste semestre. Aprendendo um monte, trabalhando um bocado, tempo escasso para cuidar de mim. 

Há quatro dias com uma dor de coluna constante, ar condicionado do ônibus quebrado. Pensamento nas coisas que tenho que fazer, resolver, nos vários compromissos que assumi e que está difícil de dar conta, me lembro da conversa que tive com Thai, quando ela me pediu que escrevesse um texto para o blog dela, eu disse que iria tentar e perguntei se tinha prazo, ela apontou a mania de advogada: prazo. Assim, disse a ela que a vida tava corrida, mas que em breve escreveria.

Voltando a minha pessoa no ônibus perdida em pensamentos, semanas depois desta conversa com Thai, lembro que não fiz o texto e que devia dar-lhe explicações. Pensamento seguinte, automático, foi que Thai não iria acreditar que eu estava sem tempo ao ver minhas fotos do Instagram.

Bingo!

O texto que ela tinha me pedido era para abordar a minha exposição no Instagram e as implicações disso.
O celular já estava em mãos, resolvi começar a escrever.
Não está no meu Instagram a minha dor de coluna, essa viagem de 6 horas em um ônibus executivo, não está lá a realidade do meu dia-a-dia.
Está lá que meu domingo à tarde foi na roça em contato com a natureza, está lá alguns bons momentos vividos com os amigos, com minha família, dias de sol. Mas também não estão lá todos os bons momentos. 

Não está lá a alegria da minha cliente hoje ao final da audiência ao ver seu direito satisfeito, o abraço que ela me deu de agradecimento e como isto me deixou realizada.
Algumas vezes posto algo relacionado ao meu trabalho, gosto de lembrar às pessoas do meu ofício, uma advogada precisa de clientes.

Em suma, está lá apenas a parte que eu desejo mostrar às pessoas, por qualquer razão que me faz achar relevante.
Não acho que isso seja ruim, mas, muitas vezes, se não cuidarmos, viramos refém disso. Seja quando nos importamos demais com o que mostramos nas redes sociais, seja quando julgamos a vida alheia com base no que é mostrado nas redes sociais.

Não podemos perder de vista que a vida da rede social é editada, filtrada, moldada, é só uma parte da pessoa. A vida é muito mais complexa, é multifacetada.
As redes sociais também são vida real, mas não são toda a vida. Não vejo como um mundo falso, como argumentam alguns, vejo como um recorte, uma parte, um lado.

O Instagram, por exemplo, me permite participar da vida dos amigos, muitos que estão espalhados pelo Brasil e pelo mundo, e também dos que estão perto, mas que a rotina impede que os encontros sejam constantes. Acho fantástico esse mundo conectado.

Não sei se o que eu quero mostrar por lá é exatamente o que as pessoas veem. Uma vez publicado o conteúdo, a foto, perdemos um pouco do controle sobre ele. Aquele que vê vai analisar de acordo com suas experiências de vida, e, principalmente, com as experiências já compartilhadas comigo. 

Então não sei passo a mensagem que eu quero, mas espero que as pessoas se lembrem que ali é só uma parte da minha vida.

Bom, acho que o dramin começa a fazer efeito, tentar dormir. Mais uma tarefa cumprida.

(Sobre os limões que a vida me dá: aproveito com tequila e sal)


Renata Mendes- Advogada e Professora

2 comentários:

  1. Natyyyy! Hahaha. Estou te vendo sentada com o uniforme do CSJI e aquela caneta quase de ponta fina, parecendo hidrocor, laranjinha por fora, na mão. Quero dizer que eu nem pensei em nada! Mas a sua mania de prazo rendeu um texto que me inspirou hoje! Então faz de conta que estava te julgando mentalmente. E muito obrigada!

    ResponderExcluir