Cadê a selfie no busão? - Por Renata Mendes
Cá estou eu, em um ônibus em minhas idas e vindas semanais, parte dos desafios profissionais que aceitei neste semestre. Aprendendo um monte, trabalhando um bocado, tempo escasso para cuidar de mim.
Há quatro
dias com uma dor de coluna constante, ar condicionado do ônibus
quebrado. Pensamento nas coisas que
tenho que fazer, resolver, nos vários compromissos que assumi e que
está difícil de dar conta, me lembro da conversa que tive com Thai,
quando ela me pediu que escrevesse um texto para o blog dela, eu
disse que iria tentar e perguntei se tinha prazo, ela apontou a mania
de advogada: prazo. Assim, disse a ela que a vida tava corrida, mas
que em breve escreveria.
Voltando a minha pessoa
no ônibus perdida em pensamentos, semanas depois desta conversa com
Thai, lembro que não fiz o texto e que devia dar-lhe explicações.
Pensamento seguinte, automático, foi que Thai não iria acreditar
que eu estava sem tempo ao ver minhas fotos do Instagram.
Bingo!
O texto que ela tinha me
pedido era para abordar a minha exposição no Instagram e as
implicações disso.
O celular já estava em
mãos, resolvi começar a escrever.
Não está no meu
Instagram a minha dor de coluna, essa viagem de 6 horas em um ônibus
executivo, não está lá a realidade do meu dia-a-dia.
Está lá que meu domingo
à tarde foi na roça em contato com a natureza, está lá alguns
bons momentos vividos com os amigos, com minha família, dias de sol.
Mas também não estão lá todos os bons momentos.
Não está lá a
alegria da minha cliente hoje ao final da audiência ao ver seu
direito satisfeito, o abraço que ela me deu de agradecimento e como
isto me deixou realizada.
Algumas vezes posto algo
relacionado ao meu trabalho, gosto de lembrar às pessoas do meu
ofício, uma advogada precisa de clientes.
Em suma, está lá apenas
a parte que eu desejo mostrar às pessoas, por qualquer razão que me
faz achar relevante.
Não acho que isso seja
ruim, mas, muitas vezes, se não cuidarmos, viramos refém disso.
Seja quando nos importamos demais com o que mostramos nas redes
sociais, seja quando julgamos a vida alheia com base no que é
mostrado nas redes sociais.
Não podemos perder de
vista que a vida da rede social é editada, filtrada, moldada, é só
uma parte da pessoa. A vida é muito mais complexa, é multifacetada.
As redes sociais também
são vida real, mas não são toda a vida. Não vejo como um mundo
falso, como argumentam alguns, vejo como um recorte, uma parte, um
lado.
O Instagram, por exemplo,
me permite participar da vida dos amigos, muitos que estão
espalhados pelo Brasil e pelo mundo, e também dos que estão perto,
mas que a rotina impede que os encontros sejam constantes. Acho
fantástico esse mundo conectado.
Não sei se o que eu
quero mostrar por lá é exatamente o que as pessoas veem. Uma vez
publicado o conteúdo, a foto, perdemos um pouco do controle sobre
ele. Aquele que vê vai analisar de acordo com suas experiências de
vida, e, principalmente, com as experiências já compartilhadas
comigo.
Então não sei passo a mensagem que eu quero, mas espero que
as pessoas se lembrem que ali é só uma parte da minha vida.
Bom, acho que o dramin
começa a fazer efeito, tentar dormir. Mais uma tarefa cumprida.
(Sobre os limões que a
vida me dá: aproveito com tequila e sal)
Renata Mendes- Advogada e Professora
+ vida sem filtros!!
ResponderExcluirNatyyyy! Hahaha. Estou te vendo sentada com o uniforme do CSJI e aquela caneta quase de ponta fina, parecendo hidrocor, laranjinha por fora, na mão. Quero dizer que eu nem pensei em nada! Mas a sua mania de prazo rendeu um texto que me inspirou hoje! Então faz de conta que estava te julgando mentalmente. E muito obrigada!
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