Um cachorro para chamar de meu - a resposta, por Karina Pizzini

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O que minha experiência tem a dizer

Adotar é uma opção? Analise essa possibilidade. Okay! Você quer de raça independente da razão? Então considere que ter um pet (vira-lata ou de raça) é como ter um filho que não vai à escola - ou vai, segundo a Thai, nos Estados Unidos. Meio clichê falar isso, mas considere a seguinte situação. Você já colocou na sua rotina o tempo extra para levar seu cachorro para passear (no mínimo duas vezes por dia, mas um veterinário saberá dizer melhor de acordo com a raça do seu bichinho). Ele precisa sair e para fazer as necessidades (caso more em apartamento), além de ser alimentado, tudo isso antes de você de casa. Rotina adaptada, ótimo! Num belo dia, você toda esquematizada no horário para acordar e sair, tudo cronometrado para não se atrasar - de novo – e percebe que seu bicho vomitou durante a noite e está aparentemente doentinho, ou que ele se machucou e precisa de cuidados. Pausa aí. 

Tenho uma English Bulldog, ela foi adotada quando já tinha uns 7 anos, está há três comigo. Desde então, já perdi as contas de quantas vezes precisei pedir ao meu chefe para chegar mais tarde no serviço ou sair mais cedo, ou até mesmo faltar por causa de uma emergência com meu bicho. Tenho uma filha coroa em casa – coroa enxuta, mas coroa. O caso da gente é tipo "worst case scenario", já que os bulldogs têm histórico e propensão a alguns problemas de pele e respiratórios (porque um dia decidiram criar essa raça num laboratório). No caso da Olga, especificamente, outro agravante foi não ter o histórico de saúde dela, para me prevenir. Por isso a importância de dar uma ração de qualidade e ter um acompanhamento com um veterinário de confiança durante o desenvolvimento do seu bichinho.

Como o Sullie, ou Sullivan - meu gato com cara de jaguatirica, foi adotado bem pequenininho consegui acompanhar sua saúde sem surpresas (emocionais e financeiras), embora recentemente tenha aparecido com um furo (isso mesmo, um furo, como de um espeto de churrasco) no seu quadril. Para a nossa sorte não atingiu nenhum órgão e ele se recuperou rapidamente. (PS: Moro em casa e meu gato dá suas voltinhas pela vizinhança, mas com hora para voltar pra casa, afinal de contas ele ainda é uma criança).

Voltando, percebe-se que ter um bicho exige dinheiro e dedicação (tempo e paciência). A Olga já era adulta quando a adotei, além disso, só fazia suas necessidades fora de casa (por dois anos moramos num apartamento). Lembrando, que pet é como filho/criança: acidentes acontecem. Meu sofá nunca foi mais o mesmo e pelos fazem parte da rotina da casa. Outra grande diferença, uma adaptação que não tivemos que passa foi a fase morde tudo. O filhote exige muito mais atenção e disposição de quem o adotou. Ele quer morder tudo que pode e mijar onde quiser. Faz parte, minha gente. Vocês também fizeram isso nessa fase. E não muda o fato de ser extremamente gostoso, mas exige um tanto quanto de paciência. Sua e talvez dos seus vizinhos, porque filhote costuma latir um bocado. Mas essa fase passa.

Mais uma historinha: O Mr. Fox, um vira-lata que foi agredido, estava com a patinha quebrada e passou dois meses conosco enquanto se recuperava. Da vovó Olga para o furacão Fox. Ainda que ele só ficasse do lado externo da casa, ele estava justamente na fase: “Tenho energia. Quero brincar, quero brincar, quero brincar, e tenho muita energia. Roer, roer, roer, roer!!!!!”. QUASE SURTEI! Apesar de ele ter dado muito problema – roeu o fio do portão eletrônico, por exemplo, o lazarento poderia ter morrido ali – ele era extremamente dócil, amoroso e por incrível que parece educável, só era um filhote feliz cheio de energia (você provavelmente lembrou de alguma criança que conhece que é uma fofura, mas mata a mãe de cansaço).

De qualquer maneira é uma grande adaptação, tanto para o pet quanto para os pais. Sair de casa e de repente emendar na casa do bofe e de uma amiga, não rola. Você precisa voltar para alimentar o seu pet e levá-lo para passear. Se você costuma viajar, atenção redobrada. Lembre-se que você precisará dispor de alguém que possa cuidá-lo ou de dinheiro para pagar um hotel. 
Estou me achando um pouco pessimista até aqui. Mas bem, sou amante dos animais, e principalmente, dos meus filhos de quatro patas. Hoje, passo o que passo com a Dona Olga, porque provavelmente alguém achou o máximo ter um bulldog inglês e fazer uma grana vendendo seus filhotes, suponho que depois que ela deixou de dar lucro e as despesas aumentaram de acordo com a idade – como disse antes, dependendo da raça exige uma dedicação financeira maior – ela foi abandonada. Reforço o drama porque ter um cachorro exige sim comprometimento e responsabilidade para a vida toda do animal. 

A parte do assistir o filme no sofá é real? Para mim é, tanto quanto a parte de ser recepcionada com o maior amor do mundo todo dia quando chego do trabalho. Sullie aparece do nada, dá um oi e volta para a rua. E a Olga balança tanto aquele toco que chamamos de rabo que chega a andar de lado. Também é real as traquimanhas de criança e irmãos, que aprontam e fazem cara com olhinho de arrependimento, a cara de pidona sempre que alguém está comendo, a felicidade ao me ver fazendo pipoca, ou simplesmente por ouvir o barulho do saco de pão. A cara de magoada porque não ganhou o pão depois de salivar muito por ele. O ronco como trator e os peidos mais fedidos que um ser poderia dar, por incrível que parece, também são impagáveis. É hilário! Ah, a alegria de ouvir o barulho da guia, sinal que vai passear. Não há emoção maior.  A parceria na tristeza é impressionante, são ótimos terapeutas. Vou parar por aqui porque já me vejo sendo comparada com a Felícia... talvez eu até tenha um pouco dela em mim, e tudo bem.



Karina Pizzini
Jornalista
Florianópolis - SC

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