Crise dos 30 uma ova! A crise está na eterna tentativa de evoluir
Ansiedade e
angústias que dominam minha mente, meu corpo e tiram o meu sono. Que
refletem no que fui até hoje e me constroem para amanhã. O grande
problema é: de que maneira e a que preço a ansiedade define a minha
vida.
Parece radical, mas como Pereba’s Queen, perfeccionista e
extremamente autocrítica (só no que diz respeito a mim mesma),
somatizo todas essas angustias numa espécie de maçaroca
sentimental. Vivo tentando evitar que elas escapem pela culatra e, no
fim, de tanto tentar administrar os sentimentos mais diversos, somado
a uma mente inquieta, elas se refletem diretamente no meu organismo.
Pense rápido: uma doença que terminam com “ite”. Eu tenho.
Tanta energia gasta (ou acumulada) de
forma desnecessária. Mas ter consciência disso não resolve os meus
problemas, reparem no desperdício de energia: Fato x acontece e
gera-se ansiedade, calculam-se os danos, separa-se o que vale e o que
não vale, aja-se se puder, repensa-se se não é possível mais, e
então, entrega-se, porém frustrada. Doente! Posso dizer que essa
sou (de maneira otimista posso quase dizer que “foi”) eu. Adotei
uma exemplificação do que eu era explícito por uma amiga há
alguns anos: Black Swan – a eterna briga mental entre o cisne
branco e o cisne negro. Rotina. Há um ano resolvi dar um basta
nisso. Chegando aos 30 daqui a seis meses, definitivamente, não é
“perebenta” e ansiosa que pretendo passar os próximos 30 anos da
minha vida.
Desde que me entreguei à terapia
mergulhei no sonho de controlar minhas ânsias, ser uma pessoa
equilibrada que deixasse de absorver os problemas alheios e
interrompesse a erupção dos sentimentos, muitas vezes
intensificados por pensamentos neuróticos. No fundo no fundo, sonho
em me tornar uma senhora sábia de cabelos brancos com alguns livros
escritos, que faz yoga, pratica meditação, tem uma horta e alguns
bichos. Mas para isso, ainda há muito o que percorrer. O que me
serve de consolo é perceber que, desde que me abri à mudança, ela
nunca mais parou de ocorrer, em todos os aspectos.
Corri atrás de ajuda quando deixei de
me reconhecer no espelho. Chorava da propaganda de margarina à
comédia romântica. Da compaixão alheia narrada numa notícia a um
pensamento melancólico. Pensava que o mundo estava contra mim e me
sentia um nada do lado das pessoas, até mesmo aquelas que sempre
estiveram ao meu lado. Desconfiava da sombra e carregava o mundo nas
costas – ainda carrego, mas de maneira diferente. Bem complexo.
Ainda que sem diagnóstico definido, imagino que tenha estado em
depressão. Desde então, cada sessão é uma nova descoberta. E a
depressão se tornou muito pequena diante do desafio de reconstruir
minha própria imagem perante mim mesma.
Próximo aos 30 – ideal
para corroborar com o clichê da “crise dos 30” –, talvez essa
tenha sido minha maior descoberta, perceber que o papel que
desempenhei até hoje como Karina não fora construído
exclusivamente por mim, mas adaptado por mim para agradar
pessoas queridas, ou para “socorrê-las” (criança iludida eu
diria), na ânsia de suprir algo que não cabia a uma criança. Foi
aí que comecei a carregar os primeiros fardos.
Eu achava que essa era a receita e a
segui sem pestanejar. Mas é claro, receita fadada ao fracasso. A
cada tentativa, ao longo dos meus 29 anos, o perfeccionismo e a
autocrítica cresciam em mim. E o fardo aumentava. Ainda não sabia
que seguia uma receita errada, afinal, essa era a única que
conhecia. Calejada e cansada, sentindo sintomas físicos de dramas
não superados – que nem minha memória e nem minha consciência
permitiam enxergar – resolvi encarar de frente essa tal de culpa,
que consome o ser humano desde que ao Igreja inventou o pecado e o
inferno. Para uma criança que cresce achando que pode salvar o
mundo, a cada “fracasso” uma culpa.
Que lindo, descobrir tudo isso na
terapia. Agora é só começar a escrever um livro. NÃO! Não foi
uma receita pronta e nunca será. Mas tudo bem, acredito que isso
faça parte da evolução de cada um, e só sentir que hoje uma um
fato corriqueiro (para algumas pessoas, mas não pra mim) me atingiu
somente 30% do nível de ansiedade há um ano atingia, eu fico feliz.
Isso prova que posso mudar, posso aprender e quem sabe viver os
próximos 30 anos de forma saudável, sabendo que posso fazer a minha
parte, mas que não posso salvar o mundo sozinha.
Por Karina Pizzini
Você me fez pensar sobre aquela conversa de "ninguém muda", apenas melhora um pouco o que já é... Mas com bastante limites. Aquilo que a gente diz quando uma amiga é traída pela segunda vez. Ou fulano voltou a usar drogas. E tal. Acho que minha questão é... Até onde a gente pode mudar sem perder uma parte importante da gente? Sem se perder um pouco?
ResponderExcluirEu acho mesmo que as pessoas se transformam, melhoram, mas não mudam completamente. Não vejo problema em perder parte importante, se ela for parte da sua essência voltará mais cedo ou mais tarde. Não vejo problema em se perder, porque se perde mesmo e o tempo todo. Afinal, quem garante que a versão "original" de você mesma é o melhor da sua essência? Quem garante que não é se perdendo que você encontre o melhor de você mesmo?
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