Crise dos 30 uma ova! A crise está na eterna tentativa de evoluir

07:23 nettodark 2 Comments

Ansiedade e angústias que dominam minha mente, meu corpo e tiram o meu sono. Que refletem no que fui até hoje e me constroem para amanhã. O grande problema é: de que maneira e a que preço a ansiedade define a minha vida. 

Parece radical, mas como Pereba’s Queen, perfeccionista e extremamente autocrítica (só no que diz respeito a mim mesma), somatizo todas essas angustias numa espécie de maçaroca sentimental. Vivo tentando evitar que elas escapem pela culatra e, no fim, de tanto tentar administrar os sentimentos mais diversos, somado a uma mente inquieta, elas se refletem diretamente no meu organismo. Pense rápido: uma doença que terminam com “ite”. Eu tenho.

Tanta energia gasta (ou acumulada) de forma desnecessária. Mas ter consciência disso não resolve os meus problemas, reparem no desperdício de energia: Fato x acontece e gera-se ansiedade, calculam-se os danos, separa-se o que vale e o que não vale, aja-se se puder, repensa-se se não é possível mais, e então, entrega-se, porém frustrada. Doente! Posso dizer que essa sou (de maneira otimista posso quase dizer que “foi”) eu. Adotei uma exemplificação do que eu era explícito por uma amiga há alguns anos: Black Swan – a eterna briga mental entre o cisne branco e o cisne negro. Rotina. Há um ano resolvi dar um basta nisso. Chegando aos 30 daqui a seis meses, definitivamente, não é “perebenta” e ansiosa que pretendo passar os próximos 30 anos da minha vida.

Desde que me entreguei à terapia mergulhei no sonho de controlar minhas ânsias, ser uma pessoa equilibrada que deixasse de absorver os problemas alheios e interrompesse a erupção dos sentimentos, muitas vezes intensificados por pensamentos neuróticos. No fundo no fundo, sonho em me tornar uma senhora sábia de cabelos brancos com alguns livros escritos, que faz yoga, pratica meditação, tem uma horta e alguns bichos. Mas para isso, ainda há muito o que percorrer. O que me serve de consolo é perceber que, desde que me abri à mudança, ela nunca mais parou de ocorrer, em todos os aspectos.

Corri atrás de ajuda quando deixei de me reconhecer no espelho. Chorava da propaganda de margarina à comédia romântica. Da compaixão alheia narrada numa notícia a um pensamento melancólico. Pensava que o mundo estava contra mim e me sentia um nada do lado das pessoas, até mesmo aquelas que sempre estiveram ao meu lado. Desconfiava da sombra e carregava o mundo nas costas – ainda carrego, mas de maneira diferente. Bem complexo. Ainda que sem diagnóstico definido, imagino que tenha estado em depressão. Desde então, cada sessão é uma nova descoberta. E a depressão se tornou muito pequena diante do desafio de reconstruir minha própria imagem perante mim mesma. 

 Próximo aos 30 – ideal para corroborar com o clichê da “crise dos 30” –, talvez essa tenha sido minha maior descoberta, perceber que o papel que desempenhei até hoje como Karina não fora construído exclusivamente por mim, mas adaptado por mim para agradar pessoas queridas, ou para “socorrê-las” (criança iludida eu diria), na ânsia de suprir algo que não cabia a uma criança. Foi aí que comecei a carregar os primeiros fardos.

Eu achava que essa era a receita e a segui sem pestanejar. Mas é claro, receita fadada ao fracasso. A cada tentativa, ao longo dos meus 29 anos, o perfeccionismo e a autocrítica cresciam em mim. E o fardo aumentava. Ainda não sabia que seguia uma receita errada, afinal, essa era a única que conhecia. Calejada e cansada, sentindo sintomas físicos de dramas não superados – que nem minha memória e nem minha consciência permitiam enxergar – resolvi encarar de frente essa tal de culpa, que consome o ser humano desde que ao Igreja inventou o pecado e o inferno. Para uma criança que cresce achando que pode salvar o mundo, a cada “fracasso” uma culpa.



Que lindo, descobrir tudo isso na terapia. Agora é só começar a escrever um livro. NÃO! Não foi uma receita pronta e nunca será. Mas tudo bem, acredito que isso faça parte da evolução de cada um, e só sentir que hoje uma um fato corriqueiro (para algumas pessoas, mas não pra mim) me atingiu somente 30% do nível de ansiedade há um ano atingia, eu fico feliz. Isso prova que posso mudar, posso aprender e quem sabe viver os próximos 30 anos de forma saudável, sabendo que posso fazer a minha parte, mas que não posso salvar o mundo sozinha.  

Por Karina Pizzini 

2 comentários:

  1. Você me fez pensar sobre aquela conversa de "ninguém muda", apenas melhora um pouco o que já é... Mas com bastante limites. Aquilo que a gente diz quando uma amiga é traída pela segunda vez. Ou fulano voltou a usar drogas. E tal. Acho que minha questão é... Até onde a gente pode mudar sem perder uma parte importante da gente? Sem se perder um pouco?

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  2. Eu acho mesmo que as pessoas se transformam, melhoram, mas não mudam completamente. Não vejo problema em perder parte importante, se ela for parte da sua essência voltará mais cedo ou mais tarde. Não vejo problema em se perder, porque se perde mesmo e o tempo todo. Afinal, quem garante que a versão "original" de você mesma é o melhor da sua essência? Quem garante que não é se perdendo que você encontre o melhor de você mesmo?

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