Hefesto deu seu último suspiro. 

Podia ter vivido mais, exatamente igual aquela música do Titãs. 

Morava numa metrópole caótica e sempre acreditou que ter muitas coisas pra fazer e ser bastante atarefado era sinônimo de ser bem sucedido. "Folga é coisa de baiano preguiçoso".

Trabalhava das 8 as 18, de segunda a sexta. Após o trabalho ia para a faculdade. Sábado fazia uns freelas. Sábado a noite dormia porque era de ferro e estava sempre exausto. Domingo organizava a agenda e tudo que tinha que fazer durante a semana.  

O emprego já dava para pagar todos os luxos que não tinha tempo de usufruir. Não podia ficar estagnado. Tem que fazer alguma coisa nova sempre.  Que tal uma pós? Um MBA? Aprender mandarim?  "Se eu dormir 4 horas por dia acho que dá tempo".

Aquela dor no peito não passava, mas perder um dia de trabalho para ir ao médico? Deixa pra depois.

Não viu o pôr do sol no Farol da Barra, não foi ao aniversário de 15 anos da sobrinha, não foi pro happy hour na casa do Stefan. Sair ? " Tenho que ver na agenda. Que tal dia 30 de dezembro? Pode ser? Anota aí".  Nada é orgânico. É tudo programado. 

E um dia, do nada morreu.  

Não concluiu o curso que não gostava e que talvez o rendesse um bom salário. Não foi promovido no estressante emprego. Não teve tempo de pagar a manutenção da piscina que não usava. 

Pobre Hefesto.